quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A Montanha do Bem


  

  Ao contrário do que ocorre nas escaladas materiais, a ascensão na Montanha do Bem nos traz ares menos rarefeitos.

  Quanto mais subimos o monte das bem-aventuranças, mais nos afastamos das feras carnívoras da planície, símbolo da animalidade que subsiste na alma, e mais perto ficamos das coloridas aves do paraíso, emblema da liberdade fruída pelos espíritos puros.

  Ah! As atmosferas superiores são mais puras e livres! A alma viaja pelo infinito como o pássaro risca o céu.

  A planície, com sua floresta densa, fechada e sombria, representa a pouca clareza de ideias dos espíritos ainda pouco experientes. Mas os níveis superiores do morro recompensam o viajante com iluminado jardim de árvores frutíferas.

  Quanto mais subimos, mais bela é a vista e melhor ideia fazemos do conjunto. Percebemos, então, que deixamos o obscuro arvoredo da planície, rumo ao pomar de delícias, localizado no topo da montanha.

  Escalar essa formação rochosa não é tarefa das mais simples. São muitos os calos a nos dar prova da aspereza do trajeto. Mas contamos com a colaboração de guias, que trilharam o mesmo caminho que agora trilhamos, e que descem das altitudes felizes para nos infundir ânimo e nos aconselhar.

  Que nós possamos subir cada vez mais! E cada vez mais rápidos! E cada vez mais confiantes!

  Não nos apavoremos com a vertigem. Uma vez que subimos um nível, não cairemos novamente no declive tenebroso dos antigos erros ou nas garras das violentas feras.

  O espírito não retrocede. No máximo, permanece imóvel por vontade própria, até que, no futuro, também pela própria vontade, volte a progredir, continue a percorrer a senda da benevolência e do conhecimento intelectual.

  Sigamos as asas dos pássaros celestiais! Ouçamos seu pacífico, igualitário e humilde canto!

  O Sol do Amor Divino, cuja luz atravessa até a vegetação fechada da planície, nos induz a subir e nos orienta a trajetória. Seu fulgor, que jamais nos abandona, mostra-se ainda mais sublime e amoroso no ápice da Montanha do Bem.

domingo, 19 de outubro de 2014

Poética



Contar séculos, contar segundos...
Cantar a diversidade de mundos
Dum só mundo, numa só antologia.
Eis o desafio (a poesia me desafia!):
Versar a multiplicidade numa só estética.

Sejam, neurônios, orbes fecundos,
Donde brotem mil astros rotundos,
A gravitar o lume estelar da Poesia.
Construirei minha própria Mitologia
Das Mitologias, em verve cosmogenética!

Eis minha aspiração,
Eis minha inspiração,
Minha constelação poética!

terça-feira, 11 de março de 2014

Aéreo


Em minha mente dormente
Vultos nevoentos me sorriem
Vaga a mente... Vagarosamente...

Vaga pelas vagas do oceano,
Alto-mar todo feito de nuvens

Nuvens de lembranças, de reflexões,
Nuvens novas, adultas, anciãs
Nuvens pueris sopram velhas ilusões...

Cúmulo de pensamentos, divagações...
Acúmulo de memórias e desejos...

Cúmulo-nimbo: hórridas previsões
De dores, de tempestuosos prantos

Cúmulo-cirro: tórridas pretensões
De livre voo, de celestes regozijos

Nefelibata, andarilho das nuvens,
Transeunte do céu, nativo do firmamento,
Vou e volto de minha imagética morada
Com o fulgor caudal do pensamento

domingo, 12 de janeiro de 2014

Nota sobre a loucura



Este mundo é como um hospício
Se quiseres a cura, não imites os pacientes
Aprenda pelo contraexemplo

Se te fizerem mal, não te vingues do louco
Sê bondoso
O mal é loucura

Se vires arrogância e presunção,
Sê modesto, singelo,
A soberba é delírio

Se te desrespeitarem,
Respeita
A injúria é insanidade,

Não discuta com o louco
Ele não precisa de teu insulto,
Necessita de tua compreensão

Quem injuria enlouquece
Quem perdoa medica a própria alma