terça-feira, 12 de novembro de 2013

As horas





I – A TARDE

Vaga, como se sonolenta,
A tarde cai no breu noturno
Vazia, dispersa e lenta

Vede: o arrebol ainda ostenta
Os derradeiros matizes do dia
N'alma, o mormaço da melancolia
Tépida e silentemente adentra

É tarde, e o breu famulento
Coloniza a abóboda celeste
Talvez ao homem ainda reste
Contemplar o estrelado firmamento

É tarde, homem. A tarde se foi...
Cedo se foi...
E com ela foi-se o tempo
Melancólico... modorrento....

II – A NOITE

A brisa da noite que, suave, acalenta,
Também desperta com gélido assobio
O homem,
Que, ao sentir frio,
Ficar sereno ao sereno não aguenta

É chegada a noite, agitada, fremente
O coração se enche de alegria,
O homem quer a fria noite quente
Quer a gandaia, a farra, a boemia

Sob o negro céu, da festa a ardentia,
Sob o breu da noite, a agitação
O homem se afoga em devassidão
E, ébrio, se esbalda em glutonia

As horas passam prestas
As cenas correm vertiginosamente
Em meio à agitada multidão
Depois vertigem,
Depois vertigem somente...
Vertigem e lassidão

III – A ALVORADA

Nos estertores da madrugada
No limiar de um novo dia
A percepção, de prazeres embotada,
Mal reage à matutina sinfonia...

...O galo canta, também canta a cotovia,
O peru gorjeia, a natureza assobia,
O sol incide sobre os olhos ébrios
A ressaca pesa na manhã luzidia...

IV –O DIA

É hora de refazer-se,
É tempo de recomeçar,
De dar à vida algum sentido a mais,
Além dos previamente embotados
Pelos excessos materiais

Não mais as tépidas bacantes
Não mais os ébrios comensais
Não mais substâncias ofuscantes
Não mais o vão prazer, não mais!

Já não há tempo para melancolia
Já não há, para a improfícua alegria,
É passado o passado embotamento
Agora é a cal, a argamassa e o cimento

É hora de erguer um monumento,
Dia de edificar um palácio interior,
E o único que dá sentido à vida
É o edificante ninho do amor

Onde reside o objetivo da vida
Onde mora seu real esplendor

domingo, 10 de novembro de 2013

Mnemônico amor

Dizer, dizer, dizer...
Para que dizer?
Preciso sentir, preciso viver.
Meu coração foi feito para bater

Preciso sentir o doce da vida,
O verdadeiro doce da vida,
Não as ilusões edulcorantes
  
Preciso sentir o doce da vida,
O verdadeiro doce da vida,
Os autênticos sentimentos...

...A candura única dos momentos,
A particularidade do convívio,
A tensão, o pulsar, o alívio...

O que faz a história pessoal são as recordações indeléveis 
O que é carimbado pelo sentimento torna-se inesquecível