domingo, 19 de setembro de 2010

Balada do Pecado e da Redenção





O erro recorrente persegue
Corre, pula sobre mim,
Aproveita-se de minha fraqueza
E, soturno, suga-me o sangue


Essa parece ser uma fuga sem fim
Por mais que eu corra,
Por mais que eu fuja,
O erro vem atrás de mim,
Derruba-me,
Extirpa a seiva da vida
Satisfeito, levanta-se, espia-me


O pecado me vê levantar
Caminho cambaleante por átimos
Começo a caminhar com maior desenvoltura
O pecado sutilmente marcha em minha procura,
Sem nunca ter me perdido de vista


Ouço passos a seguir os meus
Apresso os passos, seus passos se apressam
Temeroso olho para trás. Quem será?
Faço sempre como se tivera dele me esquecido
Como se já não me acostumara a ser seu alvo


Eis que vejo a face funesta do erro
Ele me sorri sarcástico
"Sou eu novamente, velho amigo!"
"Vim provar teu pão com geleia"
Aí eu corro, aí eu corro, corro feito louco,
Louco e desesperadamente corro, e louco, corro
Eis que o pecado me insta:
"Fique aqui! Não há porque fugir!"
"Mais cedo ou mais tarde eu vou te atingir"
"Não adianta correr. Suas pernas se cansarão"
"Eis-me aqui, que nunca me canso de te seguir"
"Eis-me aqui, sua eterna, e terna, assombração"


Pede para que eu não sinta vergonha dele
Nem "de mim", nem "de nós, que somos um"
Por instantes me paraliso. Ele se aproxima.
"Eu te conheço", sorri, triunfante,
"Sempre voltas aos braços de teu erro"
"Ó, pequeno infante, sabes, não adianta resistir"
Sua língua ofídia se contorce entre os caninos
Delgados dedos. Delgados, pálidos e mortos...
Suas fúnebres falanges buscam meus ombros
Como as mãos da morte puxam dos escombros
A fugacidade dos prazeres mundanos, estoicos,
Resignados à "indelével" fraqueza humana,
À "inescapável" imperfeição do ser


Eis que, de súbito, cintila brilho novo em olho meu
Não irei me entregar à sordidez da sombra pecadora
Não darei ouvidos ao torpe vício que me persegue
A mentira é sua única arma, a ilusão é sua única isca
O erro quer me vencer pelo meu cansaço
Se eu me conformar com a desilusão, ele vencerá
E eis que a desilusão é a maior das ilusões
E eis que o conformismo é o mais terrível dos logros


--Afasta-se, infâmia! Não me curvarei à tua persuasão!
Irás se cansar, eu me livrarei de tua torpe perturbação
Não mais ouvirei teu veneno, tolo, pútrido e abjeto erro,
Tu és mero fantoche da morte, nada tens de sagaz
És um vulto obtuso, um parvo zumbi e não me assustas mais
Não é difícil viver sem ti, não és indispensável a ninguém
Saia daqui corado de vergonha e lembrando-se de quem,
Não sem motivos, renegou-te, solenemente, ao desterro!