sábado, 19 de fevereiro de 2011

Racionalização

Sou o REBELDE de meus IDEAIS. Quero ser um homem mais organizado, mais dinâmico, com mais “conteúdo”. Alguém que aproveite as boas oportunidades da vida para amar e ser feliz. Desejo fazer várias tarefas que enobreçam minha existência e me ajudem a progredir moral e intelectualmente. Nos dias que antecedem o início das aulas, por exemplo, digo a mim mesmo que vou dormir mais cedo, acordar mais cedo, arrumar antecipadamente meus afazeres universitários e sociais. Nos primeiros dias, tenho êxito. Depois eu deixo a rotina trazer de volta meus maus hábitos.
Ontem eu pensei em ligar hoje para algum técnico em informática. Hoje eu deixei o tempo passar e achei por bem ligar para um técnico amanhã. Exatamente! Após gastar o tempo sem fazer nada, pensei que já não havia mais tempo para ser atendido por um técnico hoje. “Por isso” —justifiquei para mim mesmo— “só vou ligar para um técnico amanhã”. A verdade é que se eu já estivesse estudando, eu diria a mim mesmo “Não posso fazer isso agora. É muito estudo e pouco tempo. Quando chegar o período de férias eu ligo para um técnico”. Acontece que ainda estou em férias! Essas justificativas incoerentes que dou à minha consciência tem um nome específico. Veja as palavras do Dicionário Houaiss:
      racionalização     Datação: 1899

  n substantivo feminino
  (...)
3     Rubrica: psicanálise.
processo de caráter defensivo pelo qual um indivíduo apresenta uma explicação coerente ou moralmente aceitável para atos, ideias ou sentimentos cujos motivos verdadeiros não percebe

                                           (Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa 3.0)

Isso mesmo! A palavra é “racionalização” (mas pode chamar de “autodesculpa esfarrapada”). Os seres humanos em geral são (ou somos) frequentemente alvo das próprias racionalizações, que costumam ser muito visíveis nas testas alheias, mas que em nós mesmos estão quase imperceptíveis, camufladas em nossos vícios particulares. Os que dizem não padecer desse mal são repetidas vezes os pacientes em estado mais grave. Esses nem suspeitam dos próprios maus hábitos e quase sempre sofrem de certa arrogância.  

Há pessoas que se lastimam assim: “Eu queria fazer dieta, mas não consigo”, “Eu queria estudar mais, mas sou burro”, “Eu queria parar de fumar, mas não adiantará”, e por aí vai... Deixando à parte o problema das drogas (o fumo é uma delas), pois este é um complexo capítulo à parte, podemos dizer que o desejo de reformar-se está apenas na boca dessas pessoas.

Esse desejo quando expresso no pretérito imperfeito nada mais é que autodesculpa esfarrapada. O “eu queria...” é uma racionalização.

Hoje, quando eu disse à minha consciência que era tarde demais para ligar para um técnico de informática e que ligarei amanhã, só estava me deixando levar por uma atitude viciosa, que prejudica meu projeto de vida. Tanto isso é verdade que evitei escrever em minha agenda “Ligar para a assistência amanhã”, pois se tivesse feito tal anotação, ela ficaria martelando em minha cabeça. Até quando continuarei adiando, e adiando, e adiando?

Devo ter certeza que esse é um vício meu e eu devo combatê-lo, posso vencê-lo e minha vitória sobre ele depende apenas de minha vontade. Ah! E não posso me esquecer de usar mais a agenda e de programar a minha vida. Devo reformar-me, arrumar este meu caos. Só assim vencerei essa minha “autodesculpa esfarrapada”.

E você? Acaso tem agora racionalização a ser apagada de sua vida? Qual? Comente!